História do Christopher e da Laura

Criar um espaço onde todos se sintam valorizados

Christopher, programador de software e a sua namorada Laura, vivem em Slagelse na Dinamarca. Chistopher também trabalha como conselheiro municipal e é o presidente da Cruz Vermelha Dinamarquesa. O casal trabalha num centro que apoia jovens em situação de isolamento e solidão. “Alguns deles não sentem um toque humano há mais de um ano. Um abraço é importantíssimo para eles,” diz-nos Christopher.

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A importância do contacto físico

O contacto físico com outras pessoas é importante para si? Um abraço, um beijo, um toque no ombro, um aperto de mão?

C: É muito importante. A Laura e eu abraçamo-nos, beijamo-nos e andamos de mãos dadas frequentemente. Para mim, o contacto físico é como um voto de confiança. E passo a vida a ajeitar o cabelo dela. 
L: Haha, sim, tens de melhorar essa parte! Basicamente, limitas-te a pôr a tua mão na minha cabeça.

 

Há vários anos que trabalham no Plexus, o centro para  juventude. Qual é a importância da proximidade para os jovens?

C: Alguns dos nossos residentes dizem-nos que não abraçaram ou sentiram a proximidade com alguém há mais de um ano. As únicas vezes que sentem o contacto físico é quando conhecem alguém pela primeira vez e lhe apertam a mão. Então, se os abraçamos, mesmo que muito rapidamente e mesmo que se sintam um bocadinho constrangidos, é importantíssimo para eles. Mas falando no contacto físico de uma forma geral: se eu der uma palmadinha no ombro do meu amigo como reconhecimento do seu trabalho, vejo logo como isso o faz sentir mais confiante.

“Quando não sinto o toque humano durante algum tempo, começo automaticamente a ficar mais introvertido."

Christopher

fotografia do Christopher a sorrir
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O toque humano na sociedade

Qual é o papel do toque humano na sociedade dinamarquesa? Acha que mudou ao longo dos anos?

C: Hoje em dia, é um grande problema que haja tantos jovens que não sentem o toque humano. É essencial para a nossa autoestima. Pessoalmente, quando não sinto o toque humano durante algum tempo, começo automaticamente a ficar mais introvertido. 

Porque pensam que o toque humano é tão importante?

L: De certa forma é a validação de que somos merecedores, de que somos “suficientemente bons” para ser abraçados.
C: E faz-nos felizes. Partilhar gestos de afeto é uma forma muito diferente de socializar do que, por exemplo, conversar simplesmente.

"O contacto físico pode facilmente ser mal entendido. Não conhecemos os limites da outra pessoa."

Christopher

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O toque humano para os homens e para as mulheres

Pensam que os homens e as mulheres têm uma opinião diferente sobre o toque e sobre o distanciamento físico?

C: Para mim, no que respeita ao toque, o consentimento é essencial. Eu não sei quais são os limites da outra pessoa. É por isso que peço desculpa se acidentalmente me encostar noutra pessoa. No Plexus, temos muitas pessoas transgénero e o toque físico pode ser facilmente mal entendido. Algumas pessoas não estão habituadas ao contacto físico, e podem interpretar um abraço como algo mais do que isso mesmo. Mas se não estamos habituados a ser abraçados por alguém do sexo oposto, como poderemos saber como reagir?

L: Enquanto mulher, diria que os homens, às vezes, têm diferentes intenções com o toque físico. Será que o está a fazer porque quer algo mais comigo, ou estará genuinamente a ser simpático? Pode ser difícil interpretar corretamente o toque físico.

"Se cada um de nós fosse melhor a reconhecer a existência das outras pessoas, o mundo seria um lugar muito melhor."

Christopher

Christopher a apreciar a paisagem
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Ajudar as pessoas solitárias

O que podemos fazer para ajudar os jovens a sentirem-se menos sozinhos?

C: Eu tenho autismo. Quando era adolescente, tinha dificuldades em entender as regras implícitas da comunicação. Na Dinamarca não há uma etiqueta, ou protocolo, sobre como agir com outras pessoas. Talvez ajudasse se pudéssemos ensinar os jovens a interagir com outras pessoas fisicamente. Outro fator é que nós, enquanto sociedade, não devíamos esperar sempre o pior das outras pessoas. Às vezes, quando cumprimento outro passageiro no autocarro, ele não me responde, como se eu fosse estranho ou maluco. Mas não vou parar de o fazer só porque algumas pessoas me olham com estranheza. E se eu for o único que se dirigiu àquela pessoa naquele dia? Para algumas pessoas, mesmo um simples “olá” pode ser muito importante!
Através doutra organização, também conheço muitas pessoas em situação de sem-abrigo que ganham algum dinheiro a vender revistas nas ruas. Alguns disseram-me que muitas pessoas que passam simplesmente os ignoram completamente. Mas se os cumprimentassem, fá-los-ia sentir-se vistos. Se cada um de nós fosse melhor a reconhecer a existência das outras pessoas, o mundo seria um lugar muito melhor.

Os jovens e a solidão?

No nosso estudo a nível mundial, descobrimos que a solidão é um problema grave para jovens com menos de 35 anos.
6 OUT OF 10

diz que o toque físico não ocorre diariamente nas suas vidas

8 out of 10

perceberam durante o isolamento como o contacto físico é importante para a sua saúde

9 OUT OF 10

sentem-se sozinhos quando lhes falta o toque humano

EVERY SECOND PERSON

diz que o isolamento as fez sentir-se mais sozinhos do que alguma outra vez nas suas vidas

6 OUT OF 10

sentem muita falta do toque, e querem compensar isso, quando a crise passar

9 OUT OF 10

dizem que a falta do toque humano as faz sentirem-se sozinhas, mesmo se têm muitos contactos nas redes sociais